O que te liberta?

Saber, obviamente. Eu neste momento adoraria saber como eu vou morrer. Tipo naquele filme "Peixe Grande". É provável que eu ainda não saiba porque eu tentaria modificar o meu final, para que isso não ocorresse.
Outras coisas na minha vida sempre foram claras, eu só não sabia reconhecer ainda como o que o meu destino reservava pra mim. Nos últimos 10 anos as coisas que me libertaram também me aprisionaram, causado por imaturidade típica de adolescente que não via o mundo em sua totalidade, nem ao menos vislumbrava o universo como uma força, mas como uma coisa que se falavam em desenhos e em aulas de ciência que me seriam úteis em algum momento da vida pra ter dinheiro suficiente pra comprar o que eu quisesse (livros, doces e princesas, basicamente).
Eu via o futuro de modo claro, mas aceitava as opiniões e visão de mundo dos outros e de forma muito mais limitada. Eu até relutava, brigava, questionava, mas com a mente usando viseiras, é completamente impossível sair do caminho que te impõem a seguir.
Por exemplo, o dia que eu comecei a questionar o que eu curtia como música foi problemático. Em parte eu parei de me divertir com as "músicas mundanas", e ao mesmo tempo me aproximei de pessoas que curtiam o mesmo tipo de música que eu. O rock, os clássicos, e a "música de verdade" eram algo que eu curtia desde sempre. Mas eu curtia rebolar até o chão dançando é o tcham também, e isso não era pra ser motivo de vergonha.
Mas foi sendo, a medida que as outras pessoas me diziam que "ninguém deveria dançar isso", "isso é uma promiscuidade", "não deveriam ensinar isso as crianças", eu fui acreditando. Nem sabendo que porcaria era promiscuidade eu assumi isso como verdade absoluta, parei de me divertir, e segui por um lado só.
Imagina se eu tivesse ouvido a minha mãe, eu nunca teria escutado e me divertido tanto com Mamonas Assassinas... Ainda bem que não.
Mais tarde me apaixonei por desenhos japoneses, Harry Potter, e palavras em geral. Nem entendia bem alguns dos livros que eu lia quando criança, mas a ideia de ler já era maravilhosa. Eu sempre consegui me desligar na minha imaginação, e esse foi o bem mais importante pra mim por muito tempo, já que as experiencias externas me diziam que eu era gorda e lenta. Eu nunca me senti desse jeito, ou achei isso algo ruim até outras pessoas, sofrendo por serem chamadas das mesma coisa, ou outros adjetivos acharam por bem me classificar dessa maneira.
O problema nem era ser "xingada" pelas coisas que eu era mesmo, era nunca ter sido associada a um exemplo bom. Hoje eu sei que a colega gorda não é feia por ser gorda, e que feio e bonito é algo relativo e que não tem como medir o quanto uma pessoa é agradável aos olhos dos outros. Mas em um primeiro momento, uma primeira experiencia para uma miniatura de gente que ainda aprende a ver o que é real, e o que é opcional, o que é relativo e o que é verdade pra você mesmo. Ou seja, que não tem certeza sobre o que ou quem é na fila do pão. E depende dos outros pra mostrar o mundo a ela.
Ser classificada como nerd, inteligente, mais capacitada que outras crianças também não me ajudou, e não recupera auto estima perdida. Tanto que eu achei que teria que fazer uma escolha, ou ser fisicamente aceitável, ou ser intelectualmente aceitável. E ninguém nunca me disse que eu não tinha que me sentir feia, pra ser inteligente. Ou que pra ser inteligente eu não precisava desistir de casar, ter filhos e ter um corpo em forma. E as pessoas precisam de exemplos como esse. Porque ao invés de procurarmos enaltecer as pessoas que conseguiram isso, nós nos sentimos diminuídos com o sucesso alheio. Não realizamos que a capacidade de uma pessoa é a mesma que outra. Atribuindo a sorte, a elementos externos, como dinheiro, beleza e QI como coisas imutáveis. Porque não aprendemos o que a história nos ensina, tudo isso é relativo. Ou mesmo a teoria da relatividade de Einstein explicaria muita coisa se não fosse posto como algo inútil pra quem quer viver de por exemplo, ser um atleta... a escola deveria ser tão mais do que um local em que reproduzimos todo tipo de pré-conceito e visão de mundo da nossa família.
Mas voltando ao ponto de ser classificada. Eu já sofri muito por ser diferente, estranha, inconvencional. Hoje eu vejo pessoas que se sentiam assim fazendo sucesso na internet. E vejo também pessoas que não aprenderam nada sobre a relatividade das coisas, sendo vergonha nacional. Mas no momento em que somos tidas como estranhas, se não sentimos isso como algo que nos difere, que nos enaltece como pessoas, que nos faz crescer, não somos estranhas. Não somos o floquinho precioso de neve, que poderíamos ser. Somos a neve suja que caiu no solo, às vezes como lama e urina, às vezes num montinho servindo de munição pra uma guerra de neve. Boa notícia, podemos voar. E se quisermos, nunca cair.
Mas bem, passando a fase infantil, somos bombardeados de informação nova quando crescemos. E esse é o ponto mais importante. O momento em que escolhemos. Em que vemos possibilidades. Infelizmente, ou felizmente, pra mim esse processo sempre é quando eu estou a milímetros do chão sujo.
Eu encontro liberdade em todo momento em que tenho a possibilidade de escolha. Isso exclui todos os momentos de medo. Mas eu normalmente tinha medo, então como lidar? Bem, eu encontrei identidade quando olhei pra dentro de mim e vi o que eu queria ser quando eu era criança. Mas lembrar é pra muitos uma tarefa árdua, já que nosso palácio mental está sempre são soterrado de exemplos que não nos representam, em experiencias de raiva, indiferença e ignorância, por nossa parte e de outras pessoas, que achar aquela pessoa que você queria ser quando você era criança, quando ainda não existia tanta influencia externa, te faz pensar: ser aquela que eu era é impossível, eu nem consigo me lembrar em como é ser tão puro;
As pessoas esquecem que a mente é a arma mais poderosa que tem. Nela está todas as respostas que você necessita. É preciso saber onde, mas principalmente o que procurar.
Eu sempre tive uma imaginação fértil. Tanto que passo mais da metade do meu tempo nesse mundo imaginário. Passei tanto tempo nele, que quase me perdi nele. Foi quando encontrei forças que me libertaram. E isso não foi de uma vez. Foi e está sendo devagar; E agora estou lutando pra que eu não esqueça mais.
Pra sair do meu inconsciente, eu passei de momentos de extrema confusão, tristeza e raiva. Depois de terapia, remédios e tudo o que eu e minha família pudesse fazer pra me ajudar, uma única quebra de paradigmas me trouxe a uma realidade. Eu passei a sofrer dos dois lados. E era só porque eu não aceitava a minha realidade. A parte interna é o que é, assim como a externa. Ação leva a acontecer uma reação.
Eu sofri por não estar aqui, e não tentar viver esse mundo, tentar fugir dele. Assim, o sofrimento de outras pessoas poderia sim ter sido menos os meus. Eu não estava aqui para os meus pais quando eles precisavam de apoio, mas eu sofri por eles sem demonstrar, porque eu preferia me isolar. Eu sofri a gravidez que eu sabia que ia acontecer pois eu não aceitei o meu destino, e culpava a má sorte por uma escolha minha. E que foi designada por mim a tanto tempo que eu sabia exatamente que aconteceria, em uma hora ou outra. Eu sofri porque eu não aceitava o que eu queria, porque era o que os outros não queriam. E vagueei entre esses dois conceitos sem nunca parar pra me sentir feliz por algo tão belo, tão poderoso quanto a minha escolha de ser mãe, ou de apoiar outra mulher em sua decisão, ou de estar próxima do meu pai quando ele sofreu por essa mesma decisão. Escolhas.
Para parar de fugir de mim mesma, eu me tranquei em um quarto e li. Li muito, coisas que as pessoas não aprovaram, não apoiaram, ou só achavam perda de tempo. Primeiro eu li sobre anti feminismo, até chegar à conclusão de que definitivamente, eu era feminista. Eu li sobre romances, sobre românticos e como outros românticos escreviam para saber que não importa o quanto eu resistisse, eu era uma dessas manteigas derretidas mesmo. Não tinha como brigar com o que eu queria. E que isso não exclui em nada o fato de que eu sou mandona, e que eu assusto os meus potenciais romances. Eu não quero mais excluir isso de mim, é o que eu sou. Eu só preciso de alguém que balanceie e em quem eu encontre equilíbrio. Por todos esses anos tentando ser 8 ou 80, achar o momento em que encontre o 36 e saber identificá-lo como o meu objetivo final.
Mas a última fase de aceitação é definitivamente a mais demorada, com uma sucessão de sucessos e decaídas. Achar a minha vocação é algo que me fez sofrer nos últimos tempos, e foi o momento mais difícil, onde eu tive que ver pelos olhos do meu destino e saber que eu tinha um caminho longo pela frente, e me esforçar para não desanimar só de pensar no trabalho; Mas sabe qual é a melhor coisa que eu aprendi ultimamente? Não será um trabalho. Será um prazer percorrer todos os estágios, aprender e estar presente em cada uma delas, me esforçar todo dia para não desanimar, e não voltar aos hábitos que eu fizeram sofrer por tanto tempo.
Mas é isso, aproveitarei cada momento me divertindo, vivendo e seguindo o caminho que eu sempre soube que seria o meu. Não importa se me chamam de trocentos adjetivos, portanto que eu saiba exatamente onde eu vou chegar.
Bem vinda ao mundo real.

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