Suicídio, depressão e os meus médicos

Algumas coisas esses dias me encaminharam à este momento em que estou sentada na frente do computador tentando resumir a história da minha adolescência em alguns parágrafos num texto de um blog.

Embora em muitos momentos eu já tenha tocado no assunto aqui ou em outros locais no submundo dos arquivos de redes sociais diversas, eu acho que nunca falei a importância de ter achado o meu médico psiquiatra. E digo "meu", porque se eu precisasse de algum novamente em algum momento da minha vida, eu me voltaria para ele sem dúvidas.

Primeiro vamos ao cenário onde ele me achou. E depois como ele me achou. E só depois as considerações sobre o quanto esse encontro mudou completamente a minha vida e de como ele se acha muito responsável por eu ter chegado até aqui. O que é verdade, apesar de ser uma atitude superior e arrogante, mas muito precisa da situação que eu passei até chegar à cura, num processo de anos.

Pra começar entenda que eu vinha passando por poucas e boas depois de sair do ensino fundamental. Não só a pior época de mudanças, além da mente e corpo, a social que uma pessoa pode/vai passar, mas também o momento de rompimento estrutural da minha família. A passagem de dez pra onze anos foram marcadas por muita culpa, foi o momento mais complicado e também o momento em que eu menos consegui explicar nesses anos todos em que fiz terapia depois disso.
Eu costumo dizer que eu não me lembro muito bem da minha infância. A verdade é que eu só lembro das partes ruins. Foi quando tudo começou ficar muito confuso no meu corpo por conta de hormônios, crescimento e não crescimento corporal, que o casamento dos meus pais passou a ser uma eterna incerteza.
SZA Babylon
No final de quatro ou cinco anos da graduação do meu pai, algo que passei a valorizar somente agora depois de passar pelas dificuldades que é continuar estudos e ter família, eu não via mais nenhum motivo de acreditar em futuro no casamento dele com a minha mãe.
Ah, e a certeza maior sempre foi o fato da minha avó estar lá pra mim. E eu não tive mais isso a partir de uma gravidez de uma tia. O distanciamento do carinho dela foi ora por eu estar mais velha, ora porque eu tinha uma nova prima pra ser paparicada. A situação na casa da minha vó ficou ainda pior ao longo dos anos quando as pessoas passaram a ficar menos e a reclamar mais; ou talvez eu tenha ficado mais consciente de tudo, mas realmente parece um divisor de águas... tudo passava por estresses grandes demais mas que ninguém podia resolver de fato.
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Também na época comecei a sentir o peso do que é não ter dinheiro. Foi no tempo em que eu sofri por não ter passado na minha primeira "prova de concurso". Foi só uma avaliação para entrar num colégio público bom, mas a falha acarretou muitas dúvidas sobre como manter um nível educacional de qualidade com recursos financeiros limitados. E veja, não é que essa questão deva ser escondida, é real e deve ser algo discutido com sinceridade em qualquer idade. Mas a minha questão com isso é tratar a questão grana vs. educação como um grande ato de caridade, um investimento que se espera retorno. Por que de alguma maneira é como se qualificasse o gasto como estorvo, sacrifício. E a palavra sacrifício era muito usada quando se tratava de gastos aqui em casa. Essa palavra da qual eu associava muito com Jesus e "seu sacrifício para salvar a humanidade". Ou seja, eu sentia que eu estava pondo meus pais em cruzes e chicoteando neles enquanto meu rendimento, que sempre tinha sido alto, caía preocupantemente.
Foi na transição dos onze para os doze, eu já tinha passado a menarca e meu corpo "ficaria daquele jeito para sempre", se eu não emagrecesse, é claro. Porque essa além de ser uma preocupação minha, dos amigos, também sempre foi um grande motivo de "cuidados", e chacota, dentro da minha família.
Eu venho de uma família extremamente gordofóbica, dos dois lados. Eu no máximo de altura que cheguei (1,50cm) estava quase fadada a me tornar uma gorda. E esse foi meu pior pesadelo entre os doze e treze anos. Além disso, o racismo, mas eu não sabia que era isso até pouco tempo atrás. Quando falavam para ajeitar o cabelo, alisá-lo, contê-lo, tirar onda da minhas manchas escuras na pele por conta das espinhas, nunca foi um racismo consciente, eu acredito que a minha família, assim como eu, nunca passou (ou tinha parado para pensar) a ver racismo além do que nos é ensinado quando criança sobre escravidão, mas era cruel do mesmo jeito. Famoso racista por ignorância. E numa árvore genealógica tão misturada como a minha, é muito comum que haja uma valorização dos que tem traços mais privilegiados.
Eu nunca teria visto isso a menos ter lido ao menos uma dúzia de artigos sobre negritude, miscigenação e privilégio branco na sociedade. Eu recomendo a todos terem ciência dos papeis que cada um ocupa para poder se achar no mundo, na sua família, na sua comunidade. Porque sofrer racismo de gente que te ama é muito difícil de transpor. Muito difícil superar com terapias de "aceite quem você é", "se ame e deixe de lado as opiniões alheias", e toda essas coisas necessárias de serem ditas, porém muito complicadas de serem escutadas, quando se está num cenário onde você não sabe se quem está lá te amando te ama por obrigação, as pessoas que devia estar lá pra cuidar de você, da sua autoestima, não cuidaram.

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Pra completar, entrei num colégio que qualifica e quantifica você pelo tanto que você pode trazer a eles no futuro. E que infelizmente é a visão do mundo que acredita em meritocracia. É uma coisa que põe você em nichos de mais inteligente, mais bonitos, mais, mais, mais. E no sistema que tínhamos (porque felizmente existe reforma educacional, apesar do governo golpista), quantificava as notas. As minhas notas, que sempre foram acima da média porque eu estudava em colégio pequeno, competia para ser a melhor da sala porque eu queria ser uma Hermione, uma Washu, uma Sam, uma Docinho... começaram a cair. Caíram porque eu não conseguia me concentrar em ser a mais capaz, inteligente porque eu via uma óbvia mudança de tratamento com pessoas brancas e  ricas; "bonitas" de acordo com o senso estético baseado em raça e condições monetárias. Não via, eu sentia. E esse é o problema de ser adolescente num sistema desses. Você não aprende o que te aflinge, não aprende de onde vem o murro. Você só sente. E as quedas são dolorosas, traumáticas e revoltam.
No final, pro seu círculo social, você é só mais um rebelde sem causa. Porque "seus pais se sacrificam pra te dar a melhor educação'. "A escola se esforça pra que você passe num bom vestibular." Mas isso não importa pra quem está sofrendo. Quem está sofrendo só quer não sofrer mais.

E desse jeito eu comecei a me privar do que me fazia sentir.
Primeiro foi meu cabelo.
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Quando eu comecei a me interessar por
 "coisas de menina", moda, beleza, cuidados, vaidade... a primeira coisa que eu quis mudar foi meu cabelo. E começou muito cedo. Ainda na época de transição, aos onze. O meu ideal de beleza era Avril Lavigne, minhas inspirações eram as coisas que eu ainda amo hoje, mas que ao invés de me fazer chegar mais rápido ao que eu era, me levavam pra longe. Vampiros, Emily the Strange, Elvira, Edward Mãos de Tesoura. Todos idealizados como pessoas pálidas, lisas, etéreas, estranhas porém fofas. Eu alisei o cabelo propriamente aos catorze, a minha mãe fez outro sacrifício e me mandou para uma tarde de sofrimento e glória que durou uns dois meses até a raiz começar a aparecer.
Logo depois a comida. Porque as inspirações estranhas viraram o culto ao gótico, ao emo e consequentemente às Scene Queens/Suicide Girls. Essa época foi sofrida.

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Além da crescente noção de que qualquer um poderia ser uma pessoa famosa com o crescimento das redes sociais (meritocracia esta lá mais uma vez). Só o que você precisava ter era dinheiro pra ter a tão sonhada câmera digital, e atitude, a criatividade, a aprovação dos pais pra pintar o cabelo das cores fantasia. Quem não queria ser uma MariMoon, uma Apê da vida?! Elas eram pessoas comuns, acessíveis, nas capas das revistas e em programas de tv não por serem algum prodígio, ou serem talentosas em algo como cantar ou atuar. Elas eram famosas só por serem elas. O segredo era clarear a pele o máximo possível, com maquiagem, até talco(!); e tirar o máximo de fotos possível para escolher a melhor para pôr no fotolog. Depois disso, odiar minha pele e minha condição de pobre foi só natural, gradual e eu nem senti quando foi que esse ódio de mim mesma tinha chegado.
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Apesar de tudo, uma coisa tinha desabrochado em mim, embora todas as outras tenham retraído. Minha sexualidade estava a mil, e eu tinha acabado de passar da fase de experimentação (hiper sexualização do corpo negro+novinhas mas, até aí, eu achava uma coisa boa; outras das muitas coisas que eu não tinha consciência). Conheci meu primeiro namorado e, com ele, gays, lésbicas, pessoas que eu nem imaginava que existiam na vida real, e experimentei e aproveitei muito essa fase. Mesmo que com isso viesse também muito preconceito, e muita perseguição. Na época, era comum os meus amigos, mesmo aqueles nem tão amigos assim, serem "convidados a sair da escola por seus comportamentos inadequados". Eu cheguei a ser repreendida sutilmente e sentir o gostinho da humilhação homofóbica por um professor de matemática, matéria da qual eu era boa até então. Nunca mais consegui me recuperar nessa cadeira. Graças à uma base educacional forte isso não foi definitivo para o fim de carreira acadêmica. E mesmo que eu tivesse namorado, o fato de eu ter ficado com meninas antes o dava o direto de falar o que quisesse e meus pais de ignorar completamente esse bullying. E incrivelmente, muito se fala de bullying pelos colegas, mas nada foi mais ofensivo e determinante na minha vida do que o preconceito que eu sofri pelos funcionários daquela escola. Porque além de tudo o que eles entendiam como desvios de conduta, eu ainda era apenas uma jovem adolescente, eu não era uma pessoa ainda, não pra eles, nem pra nenhum adulto. Eu não era nada, ainda. Poderia ser, mas num futuro onde eu abandonasse as pessoas que eu gostava, o comportamento que eu tinha, a minha personalidade. Eu fui levada a médicos, psicólogos, alguns achavam que era falta de "pisa"(correção física, aqui no nordeste).
Até que uma noite, eu não senti mais nada.
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Um dia eu tive uma discussão com meus pais. Sobre coisas que eu lia na internet. Fiquei de castigo porque achavam os contos que eu lia pornográficos, fiquei de castigo. Me senti tolhida, separada da única coisa que ainda era minha, minha sexualidade.
Tentei me acalmar, tentei me juntar a eles e assistir meus seriados. Eu lembro com tantos detalhes da noite. Era sexta feira e normalmente ficávamos até tarde vendo CSI e Monk. Não consegui ver nenhum dos dois, um vazio que vinha do centro do esterno que não tinha nada a ver com estômago vazio ou dor no coração. Esses dois eu já estava bem acostumada. Não, nada. Só um grande buraco negro, sugando qualquer esperança de qualquer coisa que eu pudesse me agarra. Eu tomei 23 comprimidos de um remédio controlado que tinham me passado meses antes mas que meus pais não tinham tido coragem de continuar me dar porque me fez muito mal. Contados, de uma cartelinha incompleta. Eram bem pequenos, fáceis de engolir. Acho que eram antipsicóticos, pois o na época, esse péssimo psiquiatra, esse que meus pais podiam pagar, atendia num consultório cheio, uma fila imensa esperando para ser atendida, e como eu não estava disposta a cooperar, ele olhou pra minha cara e me passou um remédio que ele julgou adequado.
Essa parte eu paro para justificar as duas partes. 
1) Eu tenho plena ciência da dificuldade de ser parte de uma equipe médica de um consultório num bairro, cidade, estado onde tem muito poucos profissionais de saúde mental, e mesmo que ainda com a falta de procura pelo preconceito, ainda é acima do que uma única pessoa (num ambiente em que doenças psicológicas se proliferam tanto quando qualquer doença em comunidades mais pobres) possa atender bem.  
2) Eu não estava ali por vontade própria, eu estava lá porque eu estava "dando trabalho". Ou seja, se eu não estava disposta a me abrir ele nunca poderia saber qual era o meu problema real. Além da anorexia visível e a apatia e desprezo por qualquer pessoa maior de 20 anos, não tinha nada que pudesse ter sido diagnosticada àquele tratamento.
 Mesmo assim irresponsabilidade dele me passar primeiramente um remédio tão forte a ponto de me deixar muito mal numa primeira vez.

Fiquem atentos aos médicos. Por favor, não aceitem tudo sem questionar.
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Essa empreitada pelo vale dos suicidas me mandou para UTI por alguns dias, me deixou cheia de culpa, um batalhão de acusações e julgamentos, inclusive dos médicos da UTI; um em especial do meu namorado na época, um que eu pensava não poder me alcançar de outro jeito que não fosse por sexo, disse pra mim: "Não faça mais isso.", apenas. Eu não saberia dizer se essa frase fez bem ou mal pra mim. Foi a única coisa que ele me disse depois de um fim de semana no hospital, em que ele não me viu mas foi o suficiente pra eu não tentar mais nada. Eu tinha só treze anos.
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Os catorze foram ainda mais complexos:
Lembra que eu falei dos meus ídolos etéreos?! Bem, essas pessoas não eram nunca, jamais gordas, ou no caso, com um mínimo de gordura, que era o meu caso. O padrão também não era ser baixinha, além disso eu não tinha como mudar de qualquer jeito.
Então eu emagreci. De uns cinquenta e tantos quilos para quarenta (cheguei até os trinta e nove na última contagem), em poucos meses. Eu passei a usar adoçante em tudo de doce que eu amava. Tomava café porque era algo aceitável e pouco calórico, ovos sem gema, arroz e só isso o dia inteiro. Era loucura.
Nessa época, porém, eu tinha conquistado o meu primeiro namorado, estava feliz da vida sendo uma pessoa "livre, jovem, louca". Eu tive recompensas muito significativas que me fizeram continuar nesse ritmo por quase um ano. Até que terminamos.
Eu tinha convencido meus pais a sair do colégio em que eu estava, e que tudo mudaria depois já que eu não tinha os problemas com os professores, coordenadoras, e nem teria um ódio pessoal do diretor como na outra. Eu estava pronta para um recomeço na vida escolar. Além disso, coincidiu das mudanças do meu namorado, que saía mesmo colégio, ia pra faculdade agora. Eu não sofri pelo término em si, quem decidiu que não tínhamos nada mais em comum fui eu. Era por ele se relacionar com uma menina loira natural, branca e alta, modelo, isso acabou comigo.
Eu não fazia questão por ele, foi pelo meu ego ferido e minha auto estima foi parar no chão, despencou do mais alto pódio que eu tinha chegado até aquele ponto da minha vida.
Na verdade, vendo do meu ponto de vista de hoje, eu vejo que foram acessos de raiva causados por intensa ansiedade. Surto é uma palavra que não cabe mais no vocabulário. Dê nome aos bois. Ansiedade essa que se manifestou em casa, em frente ao meu computador vendo meu pior pesadelo acontecer, tudo relacionado àquela garota que eu daria tudo pra ser, e que não tinha nada a ver com um cara. Era rivalidade feminina. Eu estava segura em casa, e ao mesmo tempo não estava, não me sentia segurança em nada.
Não sentia nada além de um tremor interno que ainda me acomete muitas vezes em crises de ansiedade e uma vez a pouco tempo, numa crise de pânico, eu senti algo parecido e logo em seguida que foi substituído por um medo de morrer irracional, que na época eu não tinha. E a correção física finalmente veio. As marcas de cintada nos braços e pernas e a dor me fizeram ter um estalo, despertaram meu lado masoquista de um jeito que eu nem sabia que poderia acontecer.
A raiva me fez fazer e dizer coisas insanas demais pra me lembrar. Isso se repetiu por mais alguns meses em episódios esporádicos até eu tomei novamente remédios. Uns que eu tomei depois de ir mais em um batalhão de médicos; e estava me sentindo mal por outros motivos. Os remédios mexiam diretamente no meu sintema nervoso. E eu quis tentar novamente o suicídio. Aos quinze anos essa tentativa foi menos por não sentir nada, e mais porque eu estava sentindo muito e eu queria por isso no mundo físico. Era muita dor, e foi o equivalente aos cortes nos pulsos que só arranhavam mas não me fariam mal de verdade. E a dor que eu queria, eu senti. Eu tive reações do meu corpo que foram além do que eu esperava de dor e desespero. Por cateter pelo nariz acordada pra induzir vômito é algo terrível, queima; sem sucesso. Depois para trazer meus músculos e nervos ao normal eu fui num famoso antigo hospício de Recife e levei uns mata leão com injeções de óleo no braço que faziam ele inchado e dolorido por dias. Mas também faziam eu dormir como a muito não dormia. Sono profundo, sem sonhos, sem dor.
Eu tentei isso novamente, mas essa foi ainda mais forte. As reações pareciam com as de uma Paralisia facial temporária até a segunda vez, em que eu conseguia falar, gritar pra falar a verdade, mas a paralisia, sindrome de Bell, ou qualquer coisa assim, evoluiu para espasmos nos músculos das costas e ou dos nervos, não sei. Neurite parece muito com os sintomas, só que eu senti nas minhas vértebras. Eu sei que eu sentia muita dor dessa segunda vez.  Mais dor que tudo. Eu gritava, xingava, pedia pra ficar internada no hospital psiquiátrico que me mandaram novamente. Enfim. Depois de muito choro, e de xingar de todas as formas o médico que se recusou a me atender sem sabe exatamente o que tinha acontecido, esse mesmo cara que conheci como o profissional que ia salva a minha vida. Ou pelo menos, do modo que ela estava sendo mal conduzida.
Nessa época eu já tinha conhecido na escola o psicólogo que iria me acompanhar também durante todo o meu processo de cura. E foram dos 15 aos 18 anos. Três longos anos, ainda piores de gastos e "sacrifícios" financeiros.

Eu sei que sem o tratamento que eu passei eu não teria vivido tanto. Eu poderia nunca mais ter tido coragem pra me matar depois daquela primeira vez, mas a vontade de me machucar que se seguiu era tão assustadora quanto. E não posso dizer que eu não tive mais anjos que me salvaram de mim mesma durante tudo isso. Amigos que mesmo que eu não tenha mais contato, me salvavam do meu isolamento. Ou seja, eu tive bons médicos, um pediatra (sim, até os treze eu era tratada por um pediatra muito bom, que entendia e não fazia pouco caso da fase que eu estava passando), o doutor que soube que não poderia fazer nada e me mandou para o hospital psiquiatra, no qual eu pude ter ajuda especializada, psiquiátrica e psicológica.
Eu tive pais que entenderam que eu precisava de ajuda. E amigos que me ensinaram que minha vida podia ser mais do que drama. E drama porque ser adulto é sofrer, ser humano é sofrer, estar vivo é sofrer de algum mal, independente do que você acredita, mas o drama é que faz isso ser interessante.
Uma amiga em especial me ensinou, querendo ou não, que eu não queria morrer. Ela morreu e isso me deu todo um novo sentido para a ideia de suicídio. É fugir de coisas que podem ser resolvidas. Talvez não agora, talvez não nessa vida, mas um dia, e se não tem solução não vale a pena morrer por isso.
A vida tem altos e baixos, mais baixos do que altos, mas ainda assim, estar morta não era o que eu queria.
Eu queria estar bem.
Hoje em dia eu não tenho mais contato com nenhuma dessas pessoas que me ajudaram tanto a estar viva agora. A não ser por um problemas repentino após todo esse tempo. Mesmo com algumas recaídas na ansiedade, a depressão nunca me pegou tão forte como daquela vez. Eu tive sim, vários momentos em que tentar me adequar a um sistema que não me valorizava, ou me via como uma pessoa me deixava mal. Me deixa ainda. Mas isso não chega a ser um problema. Hoje eu sei que a culpa não é minha. Ao menos, não só minha. É minha quando eu não luto, e apenas.
 É, doutor, ao contrário do que você acha, não foi só graças a você, foi a muitas outras pessoas também, ideais, representatividade, modelos melhores, pessoas melhores. Mesmo que ainda agradeça muito a você. 
Mas não fui eu a procurar o psiquiatra dessa vez, foi a prima que eu falei no começo do texto. Aquela que tinha nascido numa época em que eu estava passando por um momento complicado de transição. Agora é o dela.
E eu não desejo que ela que ela passe por nem metade disso. Eu queria poder explicar tudo, as semelhanças, os porquês, os motivos pra não se sentir mal porque o mundo é injusto e cruel. Eu queria mostrar coisas pra ela que só me parecem claras agora, e que eu gostaria que alguém tivesse me dito com o máximo de clareza possível. Sem enrolação, um papo reto mas com empatia. Queria poder chegar entre o ponto de eu ser adulta e conseguir ajudá-la, e ser também uma adolescente pra que ela pudesse me ouvir. Eu estou presa entre essas duas realidades e não consigo alcançá-la. Não agora.

Porque nunca é como nos filmes, sabe?! Pelo menos, não nos filmes bonitos. Não é como Garota, Interrompida. É mais como Bicho de Sete Cabeças. Essa é realidade de quem não pode pagar por internamento em um "rehab". Essa é a vida real de pessoas comuns. Mesmo sabendo que no auge da minha adolescência eu também não conseguia enxergar o que eu não queria ver.

Datas: Esse texto/desabafo foi escrito no começo de julho, postado um par de dias depois de visitar meu antigo psiquiatra. As lembranças me deram novas percepções sobre o que foi tudo o que passei, o que passamos, e como eu vejo hoje os problemas que tive e a história da minha prima.Como estou numa de revisar a minha história, com certeza irei voltar do ponto que parei.

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