Autocriticidade e o narcisismo | Nosce Te Ipsum

Sou uma pessoa autocrítica.
Na verdade, o meu auto ódio se sobrepõe à somente criticidade da minha própria vida.
Não é sempre que eles se fazem presentes. Já vivi fases de total amor próprio e narcisismo. O que sempre me fazia ir parar num vórtice maluco de me forçar a fazer muitas coisas, a me dizer que eu aguentava tudo, que eu era capaz, pra no fim me ver cansada, esgotada. Depois disso é só ladeira abaixo.
Depende da lua, do ciclo menstrual, do ano, das pessoas que eu tenho como modelo a se alcançar.

Também depende de qual pessoa eu estou sendo.

Como você pode ver no quem sou eu desse blog; é meio confuso... mas as três deusas que habitam em mim me fazem tender a certos comportamentos. A Washu é a mais narcisista intelectual mas também a que me faz ter mais ódio de mim mesma quando eu não consigo o que eu quero na hora que eu quero. A Sam me afunda num auto ódio causado por simplesmente existir, por ter que existir. Eu não preciso de nada pra me sentir deprimida por ter que viver quando ela me rege. E a Sally... ela põe tudo num modo muito visual. Se é ela que está no controle, nada me faz ter mais raiva de mim do que a minha estética.

Mas tirando as minhas deusas, tem coisas externas que me causam desconforto e que eu normalmente atribuo a mim mesma. Antes, o meu narcisismo infantil achava que eu causava o que me incomodava. Com a maturidade chegando a passos largos, eu consigo ver que o meu humor não é causa, é consequência, mas são as consequência de uma junção de casualidades com a personalidade com que eu nasci.

Assim como o exemplo do meu mais novo desafio interpessoal;

Eu não sei se eu mencionei aqui o que tem acontecido no curso e como eu tenho lidado com o fato de eu ter mudado de turno e de classe no meio do ano passado, resultado de todo o problema noticiado (e bastante sensacionalizado) por mim mesma aqui nesse veículo de comunicação no qual desde a mudança da minha mãe se deu, eu tenho tido que reestruturar tudo, inclusive minhas relações de amizade e coleguismo.

Veja bem, de todas as deusas, nenhuma delas tem tendência a ser sociável. Socialização pra mim é discutir, e discutir inclui bater boca (que no final eu acabo aprendendo mais com discussões acirradas do que com conversas calmas). Ou palestrar, porque sou dessas (essa eu só prefiro fazer quando eu estou sem saco, completamente fechada pra qualquer outra opinião que não seja a minha); e nas duas situações eu infelizmente, sou o que eu sempre fui. Uma taurina difícil de dar o braço a torcer.  Reconheço que isso não é nem de longe uma coisa boa. Eu sou teimosa mas é por uma condição de nascer assim, mais do que uma opção consciente. Isso me causa muitos problemas, porque me sinto fraca quando tenho que concordar com alguém com quem não concordo, e isso me faz demorar mais pra assimilar uma ideia nova. Eu sempre preciso de muito tempo de ruminação das informações pra chegar em conclusões que me façam mudar o mindset, me desconstruir, ter uma opinião baseada em muitas visões e não só na minha.
Quando em nenhuma das duas opções acima, eu escuto, escuto, e embora demore, e vai demorar muito, eu talvez assimile a outra visão pra acrescentar numa crença já minha. Como eu me acho uma boa juíza de valores, isso não é tão ruim como poderia ser. Mas já fui bem ruim, e isso se mostra em algumas postagens aqui no blog.


Mas tá, mulher, diz logo qual foi a treta...



Eu estudo com muita gente novinha que está a um passo de descobrir que não são tão especiais assim, e quanto mais elas sentem que estão chegando a essa verdade inegável, mais elas tentam negar a todo custo. E isso irrita, porque eu era assim e já passei por isso, e não tenho paciência pra quem está começando.
Ao mesmo tempo que sou, me abomino por ser. Não gosto de ser essa pessoa arrogante e sem paciência, mas é o que está tendo pra hoje. Uma pessoa em especial anda me tirando do sério, esses dias e é especificamente essa a que eu menos queria ser chata. Admiro a força, a vontade de ser artista, mas ao mesmo tempo odeio o estrelismo e a necessidade de atenção que ele impõe. Dá vontade de ser aquelas velhas chatas que dá lição de moral no bebê chorão, mas eu sei que é fase, e eu torço que seja, pra matar essa vontade de dar um soco na cara. Ah, adolescentes...
Basicamente... Suzana Vieira. Mas é que eu sou ela e também o Didi ali atrás;

Eu odeio sentir que estou ficando velha. Não velha por velhice, mas velha por ser sábia e saber que nem adianta argumentar. Mas nova por querer mesmo assim.

Isso soma com o fato de Anne estar entrando numa fase péssima que acontece a partir de uns sete, mas que nela está acontecendo um pouco antes (precoce...) de ter que estar sempre argumentando com o meu stress. Me sinto perigosa com algumas atitudes de gente mais nova, e me pergunto se isso não é um possível indício de recalque no maior sentido freudiano.

Na psicologia o recalque é uma defesa automática e inconsciente com que são repelidas do consciente as ideias que são penosas ou perigosas. Em inglês, a palavra recalque pode ser traduzida por repression, enquanto uma pessoa recalcada pode ser descrita como repressed.

Significado de Recalque - O que é, Conceito e Definição

https://www.significados.com.br/recalque/
Estar em contato com pessoas jovens e inconsequentes me dá duas sensações, a necessidade de cuidar, e isso vem de ser uma pessoa que, apesar de repudiar a maternidade, sou muito materna. Ou seja, eu sou a pessoa que fica preocupada com a pessoa que bebeu demais no rolê, se uma pessoa que eu conheço está usando drogas demais, ou só com o fato de que eu passei por muitos altos e baixos, e também por péssimas situações mais nova e eu que não desejo pra ninguém, independente de quem seja; ou então eu fico com raiva por estar preocupada em quando a pessoa vai quebrar a cara e fica sentindo pela pessoa, por conta de uma coisa que eu prefiro não chamar de empatia boderline, mas que parece muito. Eu posso ter passado pela distúrbio boder (como eu já expliquei aqui, e nesse vídeo), mas não sinto que isso me define agora, então é só, talvez, um eco desse sentimento. Mas ainda assim meu primeiro movimento nesse segundo caso é querer repelir essa pessoa. Repudiá-la porque eu não quero sentir empatia por ela. Não quero sentir por ela, não quero me sentir impotente porque no final a escolha será dela, e não minha.
Daí nasce uma vovó do rolê.

Aquela que vive olhando de lado os netinhos fazendo merda e no final dizendo, "eu avisei".

Ai, melsenhor. Estou mesmo me tornando uma velha. Mas uma velha convencional, não a veia dos gatos que eu aspirei ser.

Colagens by Anne Taintor

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